sexta-feira, 11 de maio de 2012

O criador de sonhos

 

     Ele era o tipo de caso que a ciência jamais conseguiu explicar, o tipo de mistério que gerações futuras tentarão, sem sucesso, desvendar. Era o inexplicável em pessoa, conhecido por todos como louco ou como a experiência mal sucessedida de Deus. O que não era de se estranhar, pois o que o sábio, o ser racional, a criatura mais perfeita de todas não consegue explicar é logo carimbada com o selo da loucura ou jogada nos ombros do Deus que não sabe o que faz.
     Esse tal de louco teve uma infância normal como a de todos os outros garotos. Frequentou a escola até os 17 anos, tentou entrar para o time de futebol do colégio, mas não conseguiu, porque não entendia sobre impedimento e driblar os outros jogadores sem ser derrubado no chão era uma tarefa impossível para ele. Nunca quis ser popular, tirava notas medianas e nunca recebeu um correio elegante de alguém. Depois de terminar os estudos, se alistou nas forças armadas, mas foi dispensado por conta de uma pequena lesão na clavícula deslocada aos 12 anos depois de cair da arvore de laranjeira da casa da avó. Até aí nada de extraordinário. As coisas mudaram quando ele decidiu rasgar o script e abandonar a mascara de “sou um garoto igual aos outros” que lhe foi colocada no dia em que nasceu e resolveu mostrar ao mundo o que guardava na alma.
     Desde criança ele soube que era diferente de tudo que este mundo já viera a ver, e gostava de ser assim. Ele discutia com a Chuva, namorava a Lua enquanto ela o fazia dormir, desafiava o Mar e toda a sua força, ensinava os Pássaros a cantar, contava piadas ao Sol e jurava que o fazia morrer de rir até se pôr, sussurrava poesia aos ouvidos do Vento, desenhava rostos nas nuvens e cantava suas historias nunca vividas às estrelas.
     Não havia uma só pessoa que passava sem ser lida por aqueles olhos ensolarados. Ele era temido por seus próprios medos e abraçado pela sua solidão, mergulhava sem pudor no lago da saudade de lembranças que nunca tivera e voltava com a alma refrescada como quem tivesse acabado de visitar o inferno. Ele não tinha planos para o futuro, não esperava a noite chegar para poder sonhar, passava o dia inteiro criando e recriando os seus próprios sonhos e os realizava quando bem entendia.
     Depois de sair contando a quem quisesse ouvir, que havia conhecido os anjos pessoalmente e que estes vieram pedir que lhes emprestasse suas asas, se tornou motivo de riso e depredações em toda a cidade. Aonde ele passava carregando os seus sonhos nas mãos e nos olhos, o brilho de ter conhecido anjos de perto, o pobre garoto era visto com olhares tortos e recebido com indagações do tipo “Pobre garoto, tão jovem e tão louco”,” É mesmo uma pena! Tinha todo um futuro pela frente...” e um grupo de desalmados gritava em coro” Lá se vai o louco, sem nada na cabeça, para lugar nenhum!”. Mas ele não ligava, na verdade ele nem ao menos os conseguia escutar.
     As pessoas o chamavam de louco e ele apenas sorria, pois sabia que loucos eram todos os outros. Eu, diferente de todas aquelas pessoas, não o julgava dessa maneira. Eu o conhecia como ninguém, eu o entendia, pois um dia, fiz parte de um de seus sonhos. Pois eu fui a sua maior loucura cometida. Assim o observava de longe enquanto este andava sem tirar os olhos das mãos, sussurrando á mim mesma “Lá se vai o sonhador, com o universo na cabeça, seguindo o caminho dos céus, que é pra onde tem que ir”.

 - Caliane Melo.

2 comentários:

  1. Que lindo *-*
    Incrível como eu me identifico com seus textos...

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  2. Poxa, obrigada lindona, fico tão, mas tão feliz que goste! *---*

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